segunda-feira, 30 de maio de 2011

RELATO DE UM CASO DE FEOCROMOCITOMA.


Mulher branca de 40 anos, comerciaria, solteira, natural e residente em Salvador.
Em março de 2003, foi à consulta com história de palpitações e leves tremores, ambos esporádicos desde outubro do ano anterior, referindo o período como bastante estressante, às custas do seu novo trabalho. Um mês antes, houve piora dessas queixas, associada à perda do emprego e encerramento de um relacionamento de muitos anos. Referia atividade física moderada e regular, sem queixas. Tinha há 5 anos o diagnóstico de hipertensão leve e lábil, evidenciada por cefaléia occipital durante atividade física, com uso regular desde então de atenolol de 25mg e hidroclorotiazida de 12,5mg /dia, com excelente controle. Nessa oportunidade foi diagnosticada uma retificação da valva mitral, com escape pelo ecocardiograma. Nunca apresentou nos acompanhamentos bianuais lesão de órgãos alvo. Tabagista desde 1999. Tinha uma importante história familiar de hipertensão, incluindo pais, e, em ambos, com intensa reação de alarme em consultórios médicos. Ao exame físico pulso radial (PR) de 64 bpm, regular cheio e pressão arterial de 154/88mmHg média de duas verificações. Mapa, Holter e prova de esforço normais, uma glicemia de 128 mg/dl e no sumário de urina, 5 piócitos por campo. Estava em uso de tenoretic 25mg /manhã tendo sido acrescentado, atenol 25mg à noite. Houve melhora com o aumento do atenolol porém 1 mês após a primeira consulta, e de após encerrar atividade física habitual, apresentou intenso mal estar, com taquicardia, sudorese, palidez e dor epigástrica seguidas de lipotímia, tendo sido encaminhada a uma unidade de emergência. Passou a apresentar dor abdominal alta em faixa, náuseas e vômitos freqüentes. Apresentava PR= 92bpm débil e PA=156/75mmHg. Realizou uma ultra-sonografia do abdômen total, dois eletrocardiogramas, dosagens de amilase, enzimas cardíacas, hepáticas e musculares normais, com um leucograma de 28.000, com ausência de eosinófilos. Foi transferida para um hospital geral e no fim do dia apresentou troponina de 9 ncg/dl e depois de 10, manteve leucograma elevado com o mesmo padrão. Passou a apresentar leve hipotensão, realizando mais dois eletrocardiograma normais e o ecocardiograma revelou câmaras de dimensões normais, com acinesia de todos os segmentos miocárdicos, à exceção dos segmentos apicais, que se encontravam hipercinéticos, disfunção sistólica importante e hipertensão pulmonar moderada. Teve a suspeita de cardiopatia aguda, provavelmente, de origem viral, tendo iniciado o tratamento para a disfunção ventricular, com resposta excelente (captopril 25mg, BID e furosemida 40mg/dia) e tendo sido solicitado uma cintilografia miocárdica com o gálio-67 para confirmar miocardite viral.
Desapareceram as queixas e o quadro hemodinâmico tornou-se estável. No 3o dia de internamento desenvolveu arritmias, tipo fibrilação atrial, taquicardia atrial paroxística e períodos de taquicardia ventricular bidirecional (fig. 1) Nessa oportunidade já havia ocorrido normalização total da função ventricular, pela clínica, corroborado, pelo ecocardiograma, bem como, normalização do leucograma e da troponina. A cintilografia pelo teste do gálio (fig. 2) evidenciou miocardite aguda em atividade e dois dias após, a sorologia para vírus revelou títulos elevados para Coxsackie B, frações 2 e 5 tipo IgG. Dias depois, apesar do tratamento antiarrítmico, antihipertensivo e o uso de altas doses de ansiolítico, fez crise aguda de tremores, com palidez e hiperfonese intensa das bulhas, exacerbação do sopro sistólico em ponta com sensação de morte eminente, intensa agitação motora e logo após, períodos de taquicardia ventricular sustentada com PA= 260/110mmHg e PR=48bpm filiforme. Solicitadas imediatamente dosagens séricas de adrenalina, noradrenalina e metanefrinas urinárias de 24h. Com a introdução de mexitil 900mg associado a 600mg de miodarona houve estabilização do ritmo. Seis dias após, com os resultados apresentados de leve aumento de catecolaminas e seus metabólicos, (adrenalina=21ng, normal de 0-16, noradrenalina=90, normal de 11-86ng) foi solicitado tomografia computadorizada do abdômen, investigando a cadeia simpática e as suprarenais. A tomografia computadorizada mostrou tumor da suprarenal à direita sugestivo de feocromocitoma. Após bloqueio alfa adrenérgico com prazozim foi realizada adrenalectomia com sucesso (fig. 34). No momento encontra-se assintomática, voltou à sua condição de hipertensa leve e lábil, com uso de ramipril 5mg e hidroclorotiazida 12,5mg ao dia.




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